sexta-feira, 25 de março de 2011

Fábula I

Há uns 10 anos (Once upon a time...) aconteceu uma historinha assim:

Uma adolescente, cursando o ensino médio, terceiro ano. Um professor de química, dando uma aula daquelas típicas de cursinho. Até que o professor fala pra turma que você ali devia aprender o conteúdo, senão a pessoa que estava ao seu lado poderia acertar um questão que você errou. E vencer, enquanto você seria um perdedor. De certo modo, você não possuía amigos naquela sala, segundo o professor, mas concorrentes. Então a adolescente levanta a mão e pergunta para o professor se ele enquanto educador não se sentia mal em ensinar os alunos a praticamente odiarem-se uns aos outros, ao invés de ensina-los a lutar por mais vagas nas universidades, por exemplo. O professor deu risada da aluna, disse que ele já havia pensado assim, há muito tempo, mas que o tempo, ela haveria de perceber, remove estas ilusões. Disse também que ela era como o beija-flor da historinha, querendo apagar um incêndio carregando água em seu bico. A adolescente respondeu que nunca seria um beija-flor sozinho morrendo asfixiado ou queimado com o fogo. Ela preferia ser um papagaio, chamando os outros animais da floresta pra ajudar. A aula acabou, o professor ainda ria um sorriso irônico pra aluna. A aluna mantinha um sorriso irônico para o professor. Ele disse para ela voltar, dali uns 20 anos, dizendo se aqueles sonhos ainda se mantinham. Ela prometeu que se manteriam, que ela nunca seria uma pessoa tão medíocre quanto aquele homem. Ele disse que ia esperar.

Já se passaram 10 anos. Aquela menina deixou de acreditar em boa parte das coisa em que acreditava, deixou de desafiar professores em público. Em alguns momentos chegou a pensar se não estaria se tornando tão lugar-comum quanto aquele professor. Várias vezes pensou o que falaria para ele se o encontrasse. Teria pouco, muito pouco para falar.

Esta semana a menina lembrou porque havia escolhido seu curso, razão que o próprio curso havia apagado. Ela lembrou porque acreditava que uma mudança era possível. Lembrou que teorias eram desnecessárias. Nenhum ismo era necessário. Que a mudança é pessoal, em cada um e pode, sim, funcionar como uma corrente. Que há tanta gente sofrendo, e tanta gente ajudando. E que, sim, o professor tinha razão em partes, quando disse que com o tempo isso ia se apagar. Mas só se apaga para pessoas como ele, que deixam que se apague.

Existe muito a ser feito, e pode ser feito por qualquer um, em qualquer lugar.
Faltam dez anos para cumprir a promessa. Hoje ela sabe que vai cumprir.


5 comentários:

Unknown disse...

MMMmm...
Esta história veio a partir da análise de ontem??? Muito interessante, pois penso o mesmo e nestes dias tenho sentido uma forte vocação para ser um educador do futuro, talvez eu tenha o dom e nem saiba. O importante é não deixar de acreditar e fazer transformações e mudanças que estão ao alcança das mãos, como uma sala de aula por exemplo...

Anita Félix disse...

Sim, veio de ontem, tb...mas de outras coisas que tenho visto... E é esta mesma a ideia...fazer o que está ao alcance das mãos...

Henrique Espada Lima disse...

Credo...

Anelise Boschetto disse...

O sonho é lindo realmente. E há muito trabalho a ser feito.

Nádia Lopes disse...

Ai, Anita
Eu tive uma professora que tentou do mesmo jeito me apagar a sensação de que as mudanças eram necessárias e possiveis, e que "o povo unido jamais será vencido"...Felizmente as vezes que eu quase desisto de acreditar, alguma pessoa anjo me lembra de que é possivel...existem milhares de pessoas anjos,...hoje foi tu!!