O velho aquele dia chorou para mim. Naquele dia a morte se fez presente. A morte, essa desconhecida, pousou pesada sobre o rosto do homem, velho que se desfazia.
À minha frente, o homem que cantarolava Roberto Carlos todos os dias, secava as lágrimas que se faziam recentes na vida do velho.
O velho se fazia velho à minha frente, e eu sem saber o que fazer com tanta dor. Justo com a dor que caminhava todo dia entre os livros, cumprimentando os professores.
O filho que era tudo para mim. O filho que levou tudo de mim.
Ele espalha seus pedaços sujos de sal, sempre, sem ninguém notar detrás do sorriso. O assobio não era uma canção, era o choro do pássaro, atrás do homem. E ele chorou.
Eu, esta desconhecida, sem saber o que fazer com tanta dor. Ele chorava. A dor trazida às escuras. O filho se foi. O velho se foi com o filho.
O velho fumando, fumando se esconde, atrás de tragédias lidas e ouvidas todos os dias. Há tragédias maiores? A mulher que matou o marido, o carro que caiu da ponte, nada dói mais, nem no velho, nem em mim.
Seu filho se foi. Carregou junto toda a luz de seu olhar. Não há dor maior.
A dor tão pesada, não cai. Só se expande, nos braços, nas pernas, na alma do velho.
O velho ainda sorri para mim. Eu sorrio para o homem. O velho, que nem sabe o que fazer com tanta dor.
(texto antigo, dos vários que encontrei fazendo backup no meu primeiro computador...)
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