Ensaio sobre
meu pai.
Pensei em
fazer um poema que falasse das mãos de meu pai e para isso busquei Vinicius e
Sabino e toda uma retórica que não poderia dizer por mim mesma com a singeleza
e a ternura que deveria ser. Não conseguindo reproduzir, não querendo copiar.
As mãos de meu pai são rugosas hoje, grossas, com unhas perfeitamente alinhadas
e sempre me seguraram com um dedo só para atravessar todas as ruas e abriu
minha garganta na longa infância das inflamações.
Pensei em falar sobre a força de meu pai. E
aí não encontraria em meu repertório épico autores nem palavras, menos estrofes
e versos. A força do meu pai é conclusiva, concentrada e redimida. Mas como
dizer. Histórias de mocinho defendendo a mocinha dos bandidos, de charme de
faroeste. Força de super-herói, que carrega qualquer coisa, que carrega tronco,
segura bois, suporta distâncias melhor do que eu.
Pensei em
falar da ternura que vem dos olhos de meu pai. Inexpressa em palavras, muda e
silenciosa, como a de meu avô. Uma ternura de gestos. Uma ternura de cuidado
que circula e adoça; alimenta e faz rir. Na distância faz chorar, de saudade do
olhar.
Poderia falar
da incrível capacidade sonora de meu pai e da banda que ainda vamos montar
assim que aprendermos a tocar os diversos instrumentos que vamos colecionando.
Do passado boêmio de um pai que não era pai ainda.
Poderia contar
causos, histórias, lendas e mitos. Poderia contar que ele é quieto, silencioso
e observador. Que faz regimes doidos e exercícios puxados. Ou que agora ele
gosta de charutos. Poderia contar que
minha mãe o ama ainda mais que eu. Poderia contar que todos o amam quando o vêem.
Mas mantenho o texto assim, mais para
calado, como ele. Ponto por ponto. Tal como ele, quase reticências no final.
Um comentário:
Noooossa que LINDO, enchi os olhos aqui do meu lado, só de enxergar esse tanto de amor, tão importante e decisivo e expresso... A paternidade (a maternidade) são atos tão lotados de ternura e receio de errar, que nem todo amor (só que um olhar pequeno nos quer de exemplo) ... e assim, a gente tateia e segura a mão com uma segurança que nos falta, disfarçando o proprio medo e se fingindo gigante.(tu verá que é assim...e é LINDO) Meu pai assim como o teu continua me dando a mão e algum alento, me convidando vez ou outra pra ir pra rua e brindar a vida! (de onde está me pisca o olho e ri de canto) Feliz de nós que sabemos esse amor! Parabens..beijo e aproveita!!
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