quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Hannah e eu

     Nunca gostei de cachorros. Não da maneira como as outras pessoas costumam gostar. Beijar no focinho, abraçar, brincar. Provavelmente reflexo de uma educação de apartamento.
     Hoje a Hannah está sentada nos meus pés, olhando ao redor, como que monta guarda. Se distrai apenas para me olhar com aqueles olhos grandes e infantis, pedindo que o cafuné não pare.
     Chegou aqui já uma senhora, mas as atitudes são de um filhote. Já veio com este nome, que eu instantaneamente associei a Hannah Arendt.
     Ainda não gosto de cachorros.Mas criamos uma relação silenciosa, Hannah e eu. Quando ela estava prenha, sonhei com seus filhotes na noite anterior ao nascimento. E a alegria que senti ao vê-los no dia seguinte foi das maiores que já senti.Dois pequeninos serer na palma da mão de meu filho. E a Hannah com uma inegável expressão de cansaço e orgulho.
     Não gosto de cachorros. A Hannah, entretanto, soube me fazer ama-la. E aceita esse meu amor silencioso e quieto. Me retribuindo um amor incontido, barulhento e encantador.

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