Penso que cada vez que nos afastamos de um amigo queremos nos afastar de nós mesmos. E por amigo aqui quero dizer aquela pessoa com quem você realmente estabeleceu uma conexão profunda, daquelas de passar madrugadas divagando sobre a vida, de saber que a pessoa não está bem e ligar na hora certa, de querer ligar, enfim. Estas são aquelas pessoas de quem não escondemos verdades. Com quem somos nós, escarrados, ali.
A vida, em suas voltas, nos afasta de muitos amigos assim. Uma transferência, um trabalho, a rotina. Muitas vezes quando os reencontramos é aquele velho clichê: o tempo não passou; Mas quando nos afastamos voluntariamente de alguém que nos conhece pelo avesso, diferentemente de uma relação amorosa/romântica, onde as vezes o amor acaba, é porque algo ali está nos incomodando muito. E, sabendo que é uma pessoa com quem temos uma relação profunda, podemos dizer o que nos incomoda no outro. Esperar mudanças. Quebrar rotinas. Mas se nos afastamos sem tentar quaisquer mudanças é porque na verdade o que está nos incomodando muito somos nós mesmos. Porque ao lado deles sabemos que nossas fraquezas são feridas expostas, nossas vulnerabilidades serão lembradas. E mesmo que isso seja bom, há aqueles momentos em que não suportamos nos ver. É como se o outro carregasse um espelho, mesmo que inconscientemente. Então podemos seguir nossa vida nos ocultando de nós mesmos. Mas não ao lado de alguém com quem não conseguimos nos esconder.
Acredito que seja uma das coisas mais tristes perder um amigo assim. Seja em qual lado for: sendo a pessoa que quer se esconder, sendo a pessoa que foi afastada. Um pouco como diz o poeta: " Eu suportaria, não sem dor, que morressem todos os meus amores. Mas nunca que morressem todos os meus amigos" Cada amigo que se vai, ou que se deixa ir, é um pedaço nosso, bem grande, que morre junto. Um pedaço de nosso jeito, um pedaço de nossa crença na possibilidade do encontro, um pouco de risadas que se enterram, um pouco de uma face nossa que não vai mais existir.
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